segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Coisas que ainda são Tabu

Atenção: Tabu

Há coisas que nunca se discutem em família ou com amigos: politica, religião e... bicicletas. É verdade, todos sabemos que há assuntos que não podem nem devem ser abordados fora de um contexto específico. Pela sua natureza delicada, ninguém se põe a falar do aborto num almoço de família. Ou a discutir politica com os colegas de trabalho. A menos que já saibamos bem as opiniões de cada um, caso contrário estão criadas as condições para uns momentos extremamente desagradáveis.

Infelizmente, e como nos recorda esta posta recente do Lovely Bicycle! a bicicleta pode facilmente ser um daqueles temas fracturantes (pronunciar como se fossem o Francisco Louça), capazes de incompatibilizar parentes e amigos de longa data. Pessoalmente, desde que escrevo este blogue tenho sido surpreendido pelas reacções negativas que tenho recebido, pelo que aprendi a ser discreto. Uma apreciável quantidade de pessoas, inteligentes, racionais e aparentemente razoáveis, podem demonstrar ser completamente intolerantes quanto ao direito da bicicleta circular na via pública ou mesmo o direito do ciclista à vida e integridade física. Assumir que se é um ciclista urbano, em alguns contextos, pode ser análogo a contar aos pais, nos anos 50, que se era homossexual ou comunista.

O facto de não se poder falar livremente de uma coisa tão simples como o circular de bicicleta pela cidade sem atrair comentários depreciativos e mesmo críticas pesadas por parte de pessoas que, supostamente, têm connosco alguma ligação afectiva, deveria ser algo elucidativo do actual estado de coisas. Deve ser mais fácil afirmar em público a nossa fidelidade a um qualquer líder politico controverso do que defender o ciclismo utilitário. Chavões como "a estrada não é lugar para as bicicletas" ou "os ciclistas só estorvam, as pessoas têm pressa" ou mesmo o clássico "estão mesmo a pedi-las para serem passados a ferro" não são difíceis de serem ouvidos de pessoas insuspeitas por quem nutrimos amizade.

No fundo, o verdadeiro tabu nestas coisas é apenas um. O ciclista parece para alguns ser uma ameaça, uma ameaça ao paradigma do automóvel como utilitário imprescindível e insubstituível. E tudo o que ponha em causa a hegemonia da vaca sagrada só pode ser tabu.

sábado, 5 de novembro de 2011

Nem um Nico de bom senso

Nico quis saber o que se passa no Terreiro do Paço

Acabo de ver o António Costa a ser entrevistado pelo histórico Nicolau Brayner, no programa da RTP "Nico à Noite". Toda a entrevista ao "Sr. Dr. Presidente" da Câmara Municipal de Lisboa foi um sofrível recital de lugares comuns sobre "mobilidade", insistindo o Nicolau Brayner sobretudo no "problema" de existirem duas faixas de rodagem no Terreiro do Paço, de não ser fácil circular de carro na baixa e no "problema das colinas". Tanta mediocridade vinda de uma figura de referencia para varias gerações de portugueses entristece, mas ajudou a elevar a imagem do presidente, que se apresentou como o homem que sabe o que faz e sabe o quer para a cidade. Quem me dera que fosse verdade.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Viajar. De Brompton.



Sim, é possível. Aliás, nesta nossa era pré-apocalíptica, tudo parece ser possível em viagens aventura low-cost. Como ir à Noruega numa Vespa trintona, ou chegar até ao Senegal em bicicletas do supermercado. Atravessar as Américas fora de estrada ou saltar de cidade em cidade, a dançar no Youtube. Conhecer o mundo, enquanto ainda há um mundo para conhecer.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dobrável "do Chinês": Actualização

A Giant com algumas alterações
 
Passadas umas semanas de utilização da Giant Conway de que falei aqui, impõe-se fazer um relatório actualizado. Não há muito que dizer, na verdade: a bicicleta tem sido usada regularmente, sem qualquer problema. Não surgiram folgas nem ruídos estranhos. Tudo continua a funcionar como deveria. Apenas há a registar um vulgar furo, que não mancha a reputação dos pneus, já que o culpado foi um espinho.

Prato Campagnolo e pedais de encaixe

O tamanho reduzido não é problema se o piloto também não for XXL

Para melhorar o desempenho da transmissão e permitir uma velocidade de ponta mais elevada, o proprietário trocou a pedaleira de origem (e o eixo pedaleiro) por nada menos que um prato Campagnolo de 52 dentes. A alteração é notória, mas com efeitos limitados: a velocidade máxima na practica não aumentou muito. A Giant monta agora também pedais de encaixe e um selim diferente, por opção pessoal. De realçar que muitos componentes desta bicicleta são standards da industria, o que facilita trocas e upgrades, o que nem sempre é o caso no mundo das dobráveis.

Esta dobrável já enfrentou piso mais complicado, sem problemas

De resto, esta chinesa está aí para as curvas. E parece provar que não é preciso gastar uma fortuna numa dobrável. O facto do uso não ser muito intenso e de o "piloto" não ser muito grande ou pesado, podem também ser factores importantes para este sucesso.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ciclismo Urbano durante o PREC

Amanhã é a última sexta feira de Outubro, pelo que haverá Massa Crítica. Não se prevê chuva para a capital da republica mas ainda estou para decidir se é desta que lá vou estar no Marques de Pombal. Falando em utopias, tem circulado pela blogosfera este vídeo:




É suposto ficarmos esclarecidos sobre o percurso Holandês na criação de infraestruturas e hábitos do uso da bicicleta como meio de transporte. A reflexão que somos convidados a realizar é a de que a Holanda não reunia nenhumas condições "mágicas" excepcionais para a adopção da bicicleta pelas massas. Era só mais um país com excesso de motorização, que soube inverter o seu paradigma, e portanto, o seu modelo de sucesso poderá ser adoptado em qualquer outro lugar do mundo.

Aparentemente os holandeses deram rapidamente conta de uma série de malefícios da ditadura do enlatado, nomeadamente:
 
  • Elevado espaço urbano consumido
  • Grande número de acidentes com vítimas 
  • Mortalidade muito alta, especialmente de crianças
  • Elevado preço combustíveis

A estas constatações por parte da sociedade, somou-se a crise económica provocada pelo choque petrolífero. Houve protestos, os políticos perceberam o problema e as coisas foram sendo resolvidas. É claro que a tentação para encontrar paralelismos entre os Países Baixos dos anos setenta e o Portugal dos nossos dias é grande. Senão vejamos:

  • Excesso de motorização? Oh, Sim.  
  • Elevada mortalidade nas nossas estradas? Sim!  
  • Espaço urbano arruinado para acomodar o popó? Check.  
  • Elevados custos de combustíveis? Os maiores de sempre!  
  • Grave crise económica? A pior de todas.     

Sem dúvida que há muitas semelhanças, mas também há grandes diferenças entre as duas realidades a nível social. Protestos? Também morrem muitas crianças em Portugal vítimas de acidentes de viação, atropeladas por exemplo. Não vejo ninguém a reclamar nas ruas por causa disso. Ainda à pouco tempo foram atropeladas crianças dentro da sua escola. Não me apercebi de indignação pública. Que eu saiba nem sequer ninguém foi castigado. Um pouco diferente da Holanda.

Os "Carfree Sundays" parecem ter sido uma iniciativa interessante para sensibilizar as pessoas. Mas se na Holanda dos '70 foi possível impedir o trânsito motorizado de circular uma vez por semana, em Portugal tal não tem sido possível nem uma vez por ano! Dia Europeu sem carros? Quando foi a última vez que alguém lhe ligou alguma coisa no município de Lisboa?


Fechar os centros históricos das cidades ao tráfego automóvel? Por cá isso começa agora a ser tentado, mas de forma tão tímida e com tanto desrespeito e excepções que ficam grandes dúvidas sobre este tipo de iniciativas a longo prazo.

Portanto, as condições e as causas coincidem. Mas a vontade de mudar nem por isso. Os portugueses querem lá saber das vítimas do automóvel. Nunca foi tema que interessasse aos nossos académicos, aos artistas ou à imprensa. O que indigna a sociedade é a falta de lugares de estacionamento! O que leva o português para a rua são os aumentos nas portagens das Auto Estradas, as mesmas cuja construção arruinou o país. Para o português médio os transportes públicos são coisa de destituídos e bicicleta é um brinquedo de fim de semana. Infelizmente acho que mais facilmente adoptamos a modelo de "mobilidade" do Egipto do que o da Holanda.

Portugal é um país maravilhoso. É pena é estar cheio de portugueses. Pessoalmente, de cada vez que penso em reuniões na CML em que se tomam decisões sobre ciclovias e mobilidade urbana, imagino algo como isto:

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A crise segundo o Snob

Às vezes gostava de ser uma espécie de Lisboa Bike Snob. A sério. Só há duas coisas que o impedem, na verdade. Em primeiro lugar falta-me, como se diz, hum... talento. E depois, e não deixa de ser importante, falta-me uma "bicycle culture" local com a qual gozar. Não digo que essa sub-cultura não exista entre nós, nem que esteja acima de crítica, no entanto são tão poucos e enfrentam um tal mar de injustiças e incongruências na nossa terrinha, que fica muito mais difícil critica-los.

Voltando ao guru norte americano da blogosfera movida a pedais, um post recente deixou-me a pensar mais do que a rir. A propósito de um acidente mortal envolvendo um ciclista e reflectindo sobre a incrível facilidade com que nos EUA são desculpados todos os actos de violência cometidos com um volante nas mãos, o Snob tenta encontrar explicações racionais. Cá não será muito diferente e por isso gostei das explicações que ele avança, meio a brincar, meio a sério.

Diz o Snob que, basicamente, os humanos não conseguem racionalizar as consequências de escolhas que parecendo proveitosas a curto prazo, terão efeitos negativos a longo prazo. Não conseguimos resistir a brinquedos novos, a coisas brilhantes e reluzentes, mesmo que isso implique sérias consequências num futuro não muito longínquo.

Neste quadro, os ciclistas são apenas, na melhor das hipóteses, uns incompreensíveis excêntricos, chatos, que atrapalham o prazer de "disfrutar" da condução de um bom automóvel, o brinquedo da sociedade por excelência desde o pós-guerra. Até aqui nada de novo, ainda o outro dia tive a triste ideia de ligar o televisor e no zapping entre canais deparei com esta cena de uma conhecida série norte-americana:




Mas com esta ideia podemos ir um pouco mais longe: o que são os problemas de urbanismo das cidades portuguesas senão o facto de autarcas gananciosos (ou desesperados por financiamento, depende do ponto de vista) terem autorizado todo o tipo de projectos, em qualquer sítio, sem respeitar a lei ou considerar as implicações? O que são as dificuldades em aprovar medidas em prol de uma mobilidade mais sustentável em Lisboa senão um reflexo da obsessão dos autarcas em serem reeleitos dai a uns anos? O que é a nossa inacreditável crise económica actual senão uma consequência de uma sucessão de governantes terem  trocado obras rápidas agora por um futuro completamente delapidado depois?

Não restam dúvidas que uma das características da nossa sociedade actual é a valorização do imediato. Que isso seja um atributo inato da humanidade também pode ser argumentado. Mas que seja incontrolável já não. A prova de que não abdicamos sempre de futuros proveitos em detrimento de ganhos imediatos é justamente que temos uma sociedade, uma civilização. Não somos caçadores recolectores, somos descendentes de agricultores, que tinham que saber esperar o ciclo da natureza para fazer as suas colheitas e produzir, eventualmente, a abundância.

Mas chegados aqui, parece que andamos a tomar uma série de decisões de curto prazo que são claramente contra os nossos interesses de longo prazo. Perseguindo o sonho de uma casa nova e confiando na mobilidade prometida pelo automóvel, os lisboetas há muito evacuaram a capital e vivem agora dispersos pela vasta periferia, completamente dependentes dos seus pópós e consequentemente da disponibilidade de combustíveis fósseis baratos. A maioria parece pensar que será assim para sempre, quando há sinais inequívocos de que a mudança é inevitável. E urgente.

Fonte: DriveSteady.com

Ávidos de satisfazer as massas auto-mobilizadas, bem como alguns compadrios políticos, as nossas classes dirigentes gastaram milhares de milhões, que na realidade não tinham, numa descomunal infraestrutura rodoviária, ao ponto de Portugal bater recordes atrás de recordes em taxas de motorização. Pelo caminho foi-se desmantelando (e continua-se a desmantelar) a Ferrovia, o único transporte de longo curso realmente sustentável, sob o argumento de que era demasiado caro.

Não é propriamente a minha área, mas não é difícil perceber que grandes infraestruturas levam anos, décadas a construir (Os milhares de quilómetros de AE's levaram mais de 20 anos). Se de repente o lisboeta-dos-subúrbios não pudesse suportar o preço dos transportes e quisesse mudar-se para mais perto do emprego, isso não ia acontecer do dia para a noite. E muito mais complicado é reconstruir a rede ferroviária que foi aniquilada por sucessivos governos fanáticos do asfalto.

Imaginem só por um momento que o crescimento económico não volta tão depressa. Que esta crise perdura. Não deveríamos estar a incentivar formas mais sustentáveis, economicamente, de transportar pessoas e bens? Porque que é que o estado continua a incentivar e financiar directa e indirectamente o uso do automóvel ao mesmo tempo que restringe e penaliza formas de mobilidade mais sustentável?

Ora eu não sou como aqueles manifestantes que são contra qualquer coisa mas nunca oferecem soluções. Mesmo sem mais preocupações que não as económicas, o que se devia estar a fazer agora era exactamente oposto do que se tem feito:

  • O governo da nação deveria estar a renegociar completamente os contractos ruinosos que o estado fez com as concessionárias das autoestradas. Se necessário fosse levava tudo para tribunal. Podia até fechar algumas AE's, que só a sua manutenção tem custos astronómicos.
  • Devíamos estar a investir com pés e cabeça na ferrovia. E não é preciso ser de alta velocidade.
  • A Assembleia devia aprovar legislação que promovesse o uso dos modos suaves, quer através de alterações do código da estrada que os protegessem devidamente, como por medidas fiscais que os incentivassem.
  • Os municípios deveriam restringir ao máximo o uso e estacionamento de automóveis no centro das cidades. O uso desnecessário do automóvel é uma sangria constante de dinheiro para o exterior. Ao mesmo tempo deveriam investir nas alternativas, onde se inclui o ciclismo utilitário.


Mas as mentalidades não se mudam da noite para o dia. Tudo isto que acabei de escrever parecerá nada menos que utópico para muitos. A realidade portuguesa não se deixa intimidar por trivialidades, coisas como "factos", "números"  ou "dados Concretos". E como dizia alguém, Portugal tem a capacidade de visão de futuro da cigarra, não da formiga. Infelizmente.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ideias para a crise, Sr. Antonio Costa

Agora que parece que já não vai ser preciso esperar pelo dia 21 de Dezembro de 2012 para testemunhar-mos o fim do mundo, talvez pareça descabido continuar a insistir em propostas para reforma dos modelos de mobilidade da cidade de Lisboa, nomeadamente no que toca aos modos suaves. Não só as pessoas têm mais com que se preocupar, como a construção de ciclovias e outras medidas são muitas vezes vistas como luxos dispendiosos, ideias a colocar na gaveta até que melhores tempos surjam.

Eu discordo. (Mas isso vocês já sabiam...)

Luxo é ter uma cidade completamente dominada pelo automóvel. Que eu saiba, os veículos automóveis que circulam nas nossas estradas são na sua imensa maioria importados. São movidos por combustíveis não renováveis, caros e importados na sua totalidade de países distantes. Os custos para manter uma enorme rede viária para todos estes popós são astronómicos, tal como é astronómico o custo ambiental que vamos pagando aos poucos,  na forma de cancros e doenças respiratórias. Já para não falar dos custos em tratamentos médicos para os feridos nos milhares de acidentes anuais (Nem vou falar em mortos).

Como pode então uma ciclovia ser cara? Apenas na perspectiva de que ninguém a vai usar e que é o asfalto, que são as ruas e avenidas, elas sim, imprescindíveis para o enorme tráfego de pessoas e bens da capital. Bom, a CML tem duas hipóteses: ou promove a construção de ciclovias à séria, ou promove medidas que restrinjam fortemente não só as velocidades praticadas como o próprio uso do automóvel na capital, possibilitando que as ruas se tornem minimamente seguras para os ciclistas. Idealmente, faria as duas coisas.

Como os técnicos da CML parecem perceber tanto de Ciclovias como o Alberto João Jardim percebe de democracia, aqui ficam só umas dicas:



Repare Sr.Costa:

  • Como a ciclovia está efectivamente segregada, tanto da estrada como do passeio. Não está encima do passeio e está devidamente protegida do trânsito automóvel.

  • Como a largura é razoável, para permitir ultrapassagens e permitir o uso por veículos eventualmente mais largos que a bici normal, Cargo-Bikes, por exemplo.

  • Como não existem paragens e cruzamentos de 20 em 20 metros, que obrigem o ciclista a parar e desmontar constantemente. 

  •  Como não é possível nesta configuração um ciclista ser atingido pela porta de um veiculo estacionado. 

  • Como o piso é liso e uniforme, sem carris de eléctrico, sem pedras soltas ou caixotes do lixo.



    Como diz, Sr. Costa? Não há espaço nas avenidas Lisboetas para algo deste género? Claro que há. Basta começar a remover faixas de rodagem e lugares de estacionamento dos popós! Como? Isso ia criar engarrafamentos e problemas? Claro que sim! Mas só até as pessoas começarem a usar a bicicleta e os transportes públicos, que são eficientes, económicos e podem ser fabricados localmente.


    Falando em transportes públicos, que tal um autocarro 100% eléctrico e com capacidade de transporte de bicicletas. Pois é, essas coisas existem, e não é só nos eco-motivados países do norte da Europa. Este bicho é Norte-Americano:



    Senhores da CML, escusam de enviar e-mails de agradecimento, já tenho a caixa cheia. Mas podem contar comigo para mais sugestões. Pior que o Nunes da Silva não posso ser.

    sexta-feira, 14 de outubro de 2011

    A bicicleta mais leve do mundo

    Um dos meus dois leitores fez-me chegar esta pequena curiosidade. Não que o peso da bicicleta seja muito relevante no ciclismo utilitário, mas tem sempre piada saber estas coisas. Assim, aqui fica a bicicleta de 2,7 kg. Sim, tem mudanças e funciona e tudo. Só não sei a quantos quilómetros sobreviveria nas ruas de Lisboa.

    Anorexia e muito Crabon

    Fiquem a saber mais desta maravilha do minimalismo no site TriRig.com. Por curiosidade e/ou diversão, talvez merecesse a pena comparar este modelo e o seu peso com o de uma tradicional bicicleta utilitária holandesa. Como uma Gazelle de 3 velocidades. Eu sei qual preferiria. E é a que custa 100 vezes menos que a outra...

    quinta-feira, 13 de outubro de 2011

    O regresso do Verão Azul. De bicicleta, claro.



    Agora que o tempo começa a arrefecer e a economia está já a baixo de zero, tomem lá uma injecção de nostalgia bem quentinha. Quem é que nunca sentiu vontade se assobiar o mítico tema do "Verano Azul" durante um passeio de bicicleta numa tarde solarenga? Pois bem, os protagonistas da mítica série dos anos 80 voltaram a reunir-se em Nerja, no Sul de Espanha, trinta anos depois. Foi organizado um passeio de bicicleta pela terra, já que um dos elementos mais carismáticos da série eram sem dúvida as bicicletas, que permitiam aos jovens personagens deslocarem-se com total liberdade, a caminho de mais uma aventura de verão.

    Se acabó la crisis: ahora viene el Apocalipsis

    Os Marathon parece que também furam

    Um bloguer famoso como eu, com uma audiência de mais de 3 leitores semanais, que priva com os ricos e os famosos da nossa praça, também é afligido pelos mesmos males que tiram o sono ao proletariado mais anónimo. Sim, furei um dos meus clássicos Marathon, mas o pneu teve pelo menos a dignidade de apenas tornar o problema notado já estando eu em casa. Pneus de pedigree têm logo outra compostura.

    A falta de ar também aflige a economia aqui do nosso cantinho, o pequeno rectângulo também conhecido por um certo líder regional como "o sítio onde os Cubanos escondem a massa". Já o título desta posta é uma frase em castelhano, uma piada ao estado da nação espanhola muito escutado em Madrid, quando lá estive o ano passado. Neste contexto, daquela que possivelmente é a maior crise económica de todos os tempos, é difícil esperar grandes avanços na área da mobilidade sustentável. 

    E como sempre, consensos entre a meia dúzia de excêntricos dispostos a lutar pela causa é coisa que dura menos que o tempo de prisão do Isaltino. Basta ler as discussões nos e-mails da MUBI ou os comentários que vão surgindo nos blogues de referencia. Toda a gente tem uma ideia diferente e todos são experts em mobilidade, acabados de chegar de Copenhaga.

    Entre as "certezas" de uns e a incontrolável vontade de protagonismo de outros, na prática continua tudo na mesma. E nas ruas de Lisboa, business as usual. Carros, carros e mais carros. Tudo lhes é permitido. Hoje foram atropeladas duas crianças dentro da sua escola em Caxias e pouco faltou paras que se dissesse que a culpa era delas. Irresponsabilidade a toda a prova. Assim o determina a maioria. E para que não se diga que sou eu que sou muito crítico, até do Norte surgem desabafos que não diferem muito da minha experiência.

    As infraestruturas não utilizadas têm a sua mera existência  posta em causa

    Mas quem é que faz cortes cegos ?!?!
    Este António Costa parece um menino grande a brincar às Farm Villes.... A CMLisboa continua com um buraco de endividamento de mais de 1000 milhões de euros. Mas António Costa continua a desbaratar dinheiro construindo pistas de ciclismo para os papás e os filhinhos se divertirem nos fins de semana... Nos outros países, onde há dirigentes mais competentes, fazem-se pistas de ciclismo para alternativa à utilização de viaturas, nos percursos para o serviço ou para zonas comerciais. Em Lisboa A.Costa fez uma brincadeira de quintinhas junto ao Colombo (onde enterrou milhões de euros dos nossos impostos) e não pára de fazer pistas para divertimento !!! Travem este João Jardim lisboeta !!!!"

    Este tipo de opinião acerca das ciclovias é bastante comum e reparem que este leitor nem é hostil ao conceito, apenas à forma como os projectos foram executados. Não é a primeira vez que escuto ideias deste género e difícil é discordar. A crise pode bem ser uma oportunidade única para mudar paradigmas e mentalidades, mas ninguém vai largar o carro se os projectos de vias cicláveis da capital estiverem sempre rodeados desta controvérsia (merecida) e forem vistas como elefantes brancos.

    Os capangas do ACP não se importavam de ficar com este espaço também

    Por outro lado, ninguém deveria tomar por certo o pouco que já se conseguiu fazer pelo uso da bicicleta em Lisboa. Nada é irreversível e tudo está à mercê dos detentores dos cargos de poder. Nada impede que as ciclovias passem a ser parques de estacionamento! E os lugares de estacionamento usurpados pelas motos podem perfeitamente nunca voltar a ser lugares para bicicletas. Em Oeiras, essa terra dos amigos do alheio, foi recentemente trocado um estacionamento em U invertido por um miserável "empena-rodas", por razões que a razão desconhece. Nada está garantido. 

    Antes era assim. Agora já não é

    Entretanto, voltou ao activo na blogosfera uma das poucas vozes de sanidade que ainda se podem ouvir neste país. Refiro-me claro ao blogue A Nossa Terrinha, uma das minhas leituras preferidas. Por cá, nem tudo são más noticias. Como a noticia do lançamento de um livro sobre as peripécias menos conhecidas das... errr, muitas edições da Volta a Portugal em Bicicleta, para o qual tive a honra de ser convidado pelos autores.

    Recomendado!

    Algumas figuras do mundo do ciclismo estavam presentes, desde o Vitor Gamito até ao omnipresente José Manuel Caetano. Algumas pessoas deslocaram-se para o evento de carro, outras de moto e ainda alguns de transportes públicos. De bicicleta nem um. Nem sequer eu.

    sábado, 8 de outubro de 2011

    Um passo para a frente, um passo para trás

    Estava à conversa num intervalo das aulas, quando me apercebi de uma certa comoção na rua. Aproximei-me das grades do portão, perfeitamente a tempo de ver passar dúzias e dúzias de ciclistas, naquilo que só poderia ser a Massa Crítica de Setembro. No meio da procissão interminável de velocípedes (diz que eram 400), de todos os tamanhos e feitios, ainda distingui um colega meu, que em vez de estar nas aulas acelerava de licra no meio do pelotão.



    Passou a Semana da Mobilidade e o Dia Europeu sem Carros. Passou a Massa Crítica de Setembro, e acabou o prazo para escolher as propostas para o Orçamento Participativo da CML, que foram hoje divulgadas.

    A proposta em que eu votei ficou em 42º lugar, tendo nela votado mais 45 excêntricos, que como muito bem diz o Reichfürer Barbosa, na verdade nem devem existir. E esta é a primeira das propostas relacionadas com o ciclismo urbano que surge na lista de classificações, daqui para a frente nem me dei ao trabalho de procurar. Entre os 5 projectos vencedores que serão executados, tendo recebido perto de 10% dos votos totais (e 36 vezes mais votos que a ligação ciclável Baixa-Av. da República) está mais um muito necessário parque de estacionamento. Nesta frente, nada de novo.

    Por outro lado, a blogosfera e as listas do Mubi tem andado em ebulição com os últimos episódios dessa telenovela de grande audiência que é o projecto das Bicicletas Partilhadas para Lisboa. Neste momento as propostas parece que são duas, a mais antiga do senhor barrigudo que gosta de bicicletas mas tem o pelouro dos jardins e outra do vereador amigo do ReichFürer Barbosa, que é professor daquela universidade que aboliu os passeios no seu campus e entregou todos os metros quadrados disponíveis ao estacionamento das vacas sagradas. Não vos vou aborrecer com pormenores desta história, de muitos já demasiado bem conhecida, mas basicamente um quer fazer uma coisa semi-civilizada mas não tem dinheiro e o outro quer fazer uma amostra de coisa, com muita tecnologia à mistura, mas só para turista ver. Venha o Alberto João Jardim e escolha.

    No IST, estacionar é assim. Que mais ideias terá o prof. Nunes da Silva?

    Outra importante frente de combate é desta feita nada menos que o parlamento da república, onde uma proposta para a Afirmação dos Direitos do Ciclistas e Peões no Código da Estrada foi levada à discussão, naquilo que a FPCUB descreve como um dia histórico. Aparentemente existem apoios importantes tanto à esquerda como à direita e há até algum consenso sobre a relevância do tema. As pesadas rodas do poder estão finalmente a mexer-se, mesmo que de forma quase imperceptível. Só nos resta esperar.

    É assim em Picoas, no Cais do Sodré e um pouco por toda a cidade

    Enquanto a bicicleta luta por se afirmar na selva de asfalto que é a capital da República Democrática de Cuba, há um outro meio de transporte que fez a sua transição para fora da obscuridade marginal. Sim, se alguma coisa mudou no panorama da mobilidade da capital é o número crescente de motos e scooters que povoam as ruas de Lisboa. Nada de extraordinário quando comparado com cidades do país vizinho, para não ir mais longe, mas uma diferença muito relevante para o passado recente. Infelizmente, não povoam só as ruas, mas seguindo os hábitos dos automobilistas, estes veículos ocupam espaço indiscriminadamente, seja nos passeios, seja nos já de si escassos lugares de estacionamento para bicicletas.

    Motociclos 125: o caso de sucesso da mobilidade em Lisboa

    Esta autentica invasão de motos, sobretudo de pequenas cilindradas, é algo que me deixa com sentimentos contraditórios, pois eu estive na frente de batalha pela "directiva das 125", cuja aprovação é a base que está por trás de todo este sucesso. Agora, a tradicional indisciplina lusitana ameaça transformar os pequenos motociclos numa autentica praga, pelo menos no que toca ao estacionamento. É verdade que faltam os lugares próprios muitas vezes, mas nesse campo o trabalho da CML tem sido incansável e o panorama melhorou muito nos últimos anos. A civilidade é que não. 

    Seja como for, é inegável que muita coisa está a acontecer relacionada com a mobilidade sustentável da capital. Este dinamismo pode acabar por ter poucos resultados palpáveis, mas não tenhamos dúvidas, estes são, pelo menos, tempos interessantes.

    terça-feira, 27 de setembro de 2011

    Orçamento Participativo 2011-2012: Take 2

    Até Sexta, dia 30
    Se alguém leu o meu post original sobre o Orçamento Participativo deste ano, e os comentários que se lhe seguiram, deve ter ficado com a ideia de que eu não sou grande fã. E é mais ou menos a ideia correcta. Contudo, como em anos anteriores, acabei por perder um tempinho a tentar perceber os projectos e votei mesmo num.

    E mudei de ideias por quê? Bom, não mudei propriamente de ideias, continuo a ter algumas considerações sobre todo o procedimento que me parecem pertinentes:

    • Que um munícipe tenha de recorrer ao OP para que a autarquia (talvez) resolva problemas básicos que são da sua responsabilidade, como fazer passeios seguros e arranjar buracos, parece-me humilhante.
    • As ciclovias que se podem atribuir directa e indirectamente ao OP foram pessimamente executadas e se esse é o standard de qualidade da CML nesta matéria, o melhor será não fazerem nada.
    • Assuntos da importância que (para mim) tem a mobilidade sustentável na capital não deveriam estar dependentes apenas da esmola/lotaria do OP, como muitas vezes parece que estão.

    Dito isto, fui sensibilizado pelas palavras do JC Neves (obrigado) e acabei mesmo por votar. Não podemos esquecer que votando em qualquer projecto relacionado com o ciclismo urbano, mesmo um projecto que acabe derrotado, estamos a dar provas aos responsáveis da CML do contínuo interesse dos Lisboetas na Causa do ciclismo utilitário. E isso é realmente importante, porque todas as oportunidades são poucas para contrabalançar o omnipresente poder do Loby do popó.

    Assim, eu votei no projecto 132, por interesse pessoal e pelas razões já citadas. As propostas relevantes parecem ser:

    Nº  67 Via ciclável.
    Nº  68 Estacionamento para bicicletas, Cidade de Lisboa.
    Nº  85 Percursos Cicláveis, Lumiar.
    Nº  86 Cacifos para estacionamento de bicicletas, Lumiar. 
    Nº  91 Instalação de Elevador de Bicicletas.
    Nº 132 Corredor Ciclável entre a Av. República e a Baixa.
    Nº 144 Ampliação da Rede de Percursos e corredores cicláveis.

    Consultem aqui os projectos. E votem até ao final da semana. Ou o ReichFürer Carlos Barbosa e seus capangas é que se ficam a rir.

    domingo, 25 de setembro de 2011

    Teste: Giant Conway 2.0

    Este caixote já deu a volta ao mundo
     
    Como prometido, aqui vai uma pequena review de uma dobrável que não custa os olhos da cara. Antes de mais, convém responder à questão que quase toda a gente colocará ao ler o título desta posta: o que diabos vem a ser uma Giant Conway?

    Pois. As origens deste modelo perdem-se nas brumas não do tempo mas da sociedade globalizada. Uma investigação por parte do proprietário permitiu descortinar que se trata de um modelo da Giant, de 2008, destinado ao mercado Chinês. E graças aos imponderáveis da globalização, um punhado destas bicicletas, novas, foram importadas para a terra dos apreciadores de fish and chips e spotted dick pudding. E em terras de sua majestade foram colocadas à venda no eBay.

    Chan-chan!

    Não sei se alguma vez receberam uma bicicleta pelo correio, garanto-vos que é um volume considerável, o que torna tudo muito, hum.... divertido! Neste caso não tanto, porque a caixa tem umas dimensões mais comedidas, já que a bicicleta vem, naturalmente, dobrada. E a dobra é do tipo Dahon, o quadro quebra a meio e o espigão do guiador dobra à altura da caixa de direcção. Mais coisa menos coisa, é tudo muito semelhante.

    Outra possível interrogação que possam ter nesta altura é qualquer coisa do género:"e funciona!!?"

    Chinesa à solta na capital
     
    É uma questão muito razoável, sabendo nós que as bicicletas dobráveis têm uma engenharia a tirar para o complexo e que esta menina veio da China, terra onde muitas vezes a qualidade não mora. Pois sim, tudo o que é para funcionar funciona, sem problemas ou manhas. Obviamente, este é um produto de gama baixa, e como tal deve ser avaliado, mas não fica atrás de modelos vendidos por cá a preços semelhantes (leia-se superiores), de marcas menos conhecidas e muitas vezes fabricados nas mesmas paragens.

    Uma bicicleta de marca!

    E então o que temos no menu? Temos um quadro em aço, temos seis velocidades obtidas por meio de uma transmissão Shimano, com um desviador Tourney, gripshift, e uma cassete convencional. Os travões são v-brake da ProMax, a caixa de direcção é de rosca, de uma polegada. As rodas de alumínio, cubos e a maioria das restantes peças são fornecidas pela própria Giant. A bicicleta vem pronta para uso utilitário, com pormenores interessantes como:

    • Reflectores à frente e atrás, e nas rodas
    • Guarda lamas 
    • Grelha porta-bagagens
    • Protector do prato dianteiro
    • Descanso

    Todos estes gadgets pagam uma factura na balança e é impossível que esta Giant atinja os 12 kg anunciados. Boa parte da culpa será dos guarda-lamas, que são em aço sólido! De resto, como em qualquer roda 20, o peso está todo muito lá em baixo e só se nota quando temos que pegar na bicicleta. O quadro em aço ajuda a tornar a viagem confortável, e existindo algumas flexões no conjunto, nomeadamente nos pedais e no espigão da direcção (algo comum a muitos outros modelos), não é nada de preocupante. O que salta logo à vista quando assumimos os comandos são duas coisas: primeiro apercebemo-nos de que a bicicleta é realmente pequena e depois somos surpreendidos pela estabilidade e conforto que mesmo assim ela apresenta.

    Elegante e confortável


    As bielas (cranks) são apropriados para pessoas de baixa estatura

     
    Pormenor do fecho central


    Cubo da frente também da marca

    Esta Giant não é uma marota irrequieta, como as rodas de 20 polegadas poderiam fazer pensar. Isto é ainda mais inesperado porque a bicicleta mede menos de 1 metro entre eixos e eu ultrapasso em comprimento os limites propostos pelo fabricante (altura máxima de 185cm). Esta bicla terá sido feita a pensar mais no utilizador asiático, os cranks, exemplo, medem 165mm, um tamanho adequado a pernas pequenas. Já o limite de peso é de 105 kg, exactamente o mesmo das Dahon de gama alta.

    Rodas e pneus da própria Giant

    Uma limitação da bicicleta tem a ver com a transmissão. Não falo do número de velocidades, mas do escalonamento destas. Foi usado na frente um prato de 48 dentes (atrás é 14-28), o que não chega para dar grande embalagem. Se a velocidade máxima falha, as subidas por seu lado não serão problema. De resto, as sensações que esta Giant transmite estão bem acima dos Euros que custou (cerca de 200 já com portes). O proprietário está satisfeito e há mais uma bicicleta utilitária a rolar pela capital.

    Resumindo e baralhando:

    A favor:

    • Preço
    • Quadro em Aço
    • Dobra e componentes específicos aparentemente fiáveis 

    Contra:

    • Velocidade Máxima
    • Questões de garantia e peças
    • Bielas de 165mm, para quem tenha a perna grande 

    Charme Oriental




    Mais uma vez, este trabalho só foi possível porque pude contar com a preciosa colaboração de:

    Ciclista e feliz proprietário da Giant: João Serôdio
    Fotografia: João Serôdio

    Brompton Electrica

    Não é esta! Imagem do modelo oficial ainda por revelar...

    No que é um óbvio reconhecimento da importância transcendente deste blogue no panorama do ciclismo utilitário mundial, recebi recentemente um e-mail daqueles senhores ingleses que fazem bicicletas que se quebram todas e ficam muito pequenas. Diz a missiva que a marca se prepara para lançar um modelo com assistência eléctrica na sua gama de dobráveis. A chamada eBrompton está na forja há seis anos e era conhecida até agora como o Projecto X (Coisas de bifes). O modelo só deve chegar à maioria dos mercados em 2013.

    Quem não quiser esperar tanto pode sempre ir a Londres para o ano ou encomendar já um modelo não oficial, uma transformação feita pela boa gente da NYCewheels. Não vai é ficar barato...

    sábado, 24 de setembro de 2011

    Pedais de encaixe na cidade

    O ultimo grito da moda urbana cycle-chic-mega-ri-fixe. Os colegas gostaram

    Ultimamente tenho andado com pedais de encaixe. A coisa começou por simples preguiça em voltar a trocar os pedais por uns convencionais depois de umas voltas maiores de fim-de-semana. Acabei por usar bastante os pedais de encaixe em deslocações utilitárias por Lisboa nos últimos tempos e esta posta é um apanhado das minhas impressões.

    Recordo que o meu background, se é que tenho algum, é do BTT, e nesta prática estava habituado ao uso de pedais de encaixe da Shimano ou compatíveis, vulgo SPD (No meu caso uns muito comuns M520). Normalmente quem se acostuma a este sistema não quer outra coisa. Também há quem nunca chegue a acostumar-se. Para uso em cidade tinha concluído que o sucessivo para-arranca tornava o uso do SPD menos aliciante, talvez mesmo perigoso, pelo que optei por uns convencionais pedais de plataforma.

    Convencional...

    ...ou de encaixe?

    Agora que tive oportunidade de experimentar, a verdade é que não posso dizer que haja um claro vencedor. Por um lado os SPD's mantêm em cidade todas as suas vantagens: permitem um maior controlo da força de pedalada e logo arranques mais incisivos e acelerações mais rápidas. Obviamente também dão maior segurança ao descer depressa uma rua esburacada de Lisboa, e dessas há muitas. Também ajuda ter o pé de arranque preso, podendo rodar muito mais facilmente o pedal para a posição ideal para voltar a arrancar, algo mais moroso com pedais convencionais. Os pedais de encaixe transmitem mais segurança a todo o momento, menos quando temos que, inesperadamente, colocar o pé no chão. E situações desse tipo não são incomuns no trânsito caótico de Lisboa. Em quase todos os modernos pedais de encaixe a pressão das molas pode ser regulada, nomeadamente para tensões muito baixas, como estão os meus neste momento. Mesmo assim o potencial para surgirem problemas está lá e não deve haver coisa pior que tombar na bicicleta, no meio dos carros, com uma perna presa no pedal...

    Também há pedais mistos ou (como aqui), acessórios que permitem utilização mista

    Para usar pedais de encaixe, é necessário utilizar sapatos específicos. Isso hoje em dia não é grande problema, existem muitos modelos, de várias marcas, que permitem um caminhar quase confortável e se o "cleat" ficar no meio da sola até se pode evitar o som de cascos de cavalo e o arruinar do chão da casa dos amigos. Não é o caso dos sapatos que eu tenho usado ultimamente, mas isso agora não interessa nada.

    Em suma, para um utilizador experiente, é uma opção como outras. Para quem não tem bastante experiência com este tipo de pedais, o melhor é usar pedais de plataforma, as perdas de "potência" em distâncias curtas são negligenciáveis e são mais simples, versáteis, seguros e baratos.

    sexta-feira, 23 de setembro de 2011

    Comichão premium



    Pronto, já falei no assunto. E se querem a minha opinião, eu sei que não querem, mas cá vai ela na mesma, como de costume: o filme parece ser o típico produto de acção de Hollywood, neste caso de baixa qualidade, e que por acaso, só por acaso, até envolve bicicletas. Foi fixe ver o trailer, acho que não vou passar disso.

    quinta-feira, 22 de setembro de 2011

    Dia Europeu Sem Carros 2011

    Deixei passar a efeméride, porque não ligo a essas coisas, mas este contestatário cantinho do ciberspaço superou recentemente uma ano de vida e já passou da centena de postas. Tal torna-se evidente pelo facto de eu já o ano passado ter escrito alguma coisa sobre o Dia Europeu Sem Carros.

    Da desilusão do ano passado para as muito baixas expectativas deste ano, das quais dei conta não há muito tempo, em Lisboa espera-nos um dia como os outros. O acto simbólico e motivador de fechar o centro da cidade ao trânsito motorizado foi por cá há muito abandonado, supostamente por falta de adesão dos munícipes. Assim, o que há são uma série de pequenos eventos de sensibilização, conferências e o encerrar de uma parte de uma rua, para fechar a Semana Europeia da Mobilidade, na capital.

    Na minha opinião isto é muito pouco. A raiar o ridículo. Mas para o ACP, por exemplo, se calhar já é até demais. E toda a gente sabe quem é que manda realmente por estas bandas. Nem sei porque Lisboa ainda faz parte da semana da Mobilidade, uma vez que na prática não implementa o mínimo que uma cidade participante está obrigada a fazer. Isto do querer parecer verde mas achar que os votantes são todos uns barrigudos carro-dependentes é tramado.

    Seja como for, amanhã (hoje!) lá estarei de bicicleta no meio do trânsito. Desafio todos os leitores a, pelo menos amanhã, deixarem o carro em casa.

    segunda-feira, 19 de setembro de 2011

    Projecto Re-Food

    Imagem: Filipe Arruda

    Já me tinha cruzado várias vezes em Lisboa com este senhor de chapéu e não me passou pela cabeça o que ele andava a fazer. Vale a pena espreitar este artigo do Público para perceber, entre outras coisas, como a bicicleta mais uma vez é parte da solução para os problemas de Lisboa.

    domingo, 18 de setembro de 2011

    GT Agressor 2.0 em teste

    Imagem: João Serôdio

    Há por aí umas formulas que determinam o número ideal de bicicletas que um entusiasta deve ter. E eu tenho as minhas próprias ideias sobre o número indispensável de bicicletas que uma pessoa deveria pelo menos ambicionar possuir.

    Infelizmente, por norma a realidade não é assim tão linear. O espaço lá em casa, as finanças, o conjugue, tudo são factores que conspiram para limitar os nossas ambições no que toca ao coleccionismo de máquinas do pedal. Para muitos existem condições práticas para ter apenas uma bicicleta. E isso torna as características dessa bicicleta única ainda mais importantes. A polivalência estaria no cimo da lista dessas características, e a seguir ao MacGyver, nada é mais polivalente que uma bicicleta de montanha de gama baixa.

    Imagem: João Serôdio

    A bonita GT que motiva esta posta é um desses modelos. Uma bicicleta capaz de tudo e de ir a qualquer lado. Para quem está a voltar ao ciclismo ou simplesmente pretende substituir a sua velha BTT dos anos oitenta e noventa por alguma coisa semelhante, este tipo de bicicleta é uma boa ideia. A geometria do quadro em alumínio aposta no conforto, os componentes são de gama baixa e algo pesados, mas de marcas reputadas. Tudo funciona como deveria e a sensação de precisão, de ausência de folgas, de ruídos, numa bicicleta nova, é incomparável.

    O guiador sobre-elevado apoia-se num avanço de ângulo pouco agressivo. Os punhos são tão atraentes como confortáveis e o selim completa este panorama com os mesmos predicados. A complementar os pontos de apoio do ciclista, temos uns pedais bastante básicos mas ainda assim de marca conhecida. A pedaleira é uma Suntour bastante simples, de onde se destaca o disco de protecção da corrente. Quem pretender fazer BTT vai achar que é material (e peso) que sobra, quem quiser dar um uso mais utilitário à GT vai agradecer este pequeno pormenor que evita manchar a roupa.

    E um olhar mais detalhado sobre esta GT revela a sua aptidão para o passeio mais que para o monte. Há muitos outros modelos no catálogo da marca americana aptos a satisfazer o BTTista mais radical. Esta GT tem outras competências. O quadro aceita uma grade porta-bagagens e guarda-lamas. A suspensão da frente tem furação para guarda-lamas e luzes, uma raridade nos dias que correm.

    Pedaleira Suntour, básica mas funcional

    A suspensão de 63mm não tem regulações, mas aceita guarda-lamas  

    A transmissão está entregue à Shimano

    As 24 velocidades apostam em relações baixas: esta GT sobe tudo!

    Conforto e bom gosto

    Mesmo os componentes de gama mais baixa são "de marca"

    A minha primeira BTT foi justamente uma GT parecida com esta, concretamente uma Avalanche 3.0 de 2003. Eu dei-lhe um uso muito agressivo, e embora não fosse essa a sua vocação, a bicicleta nunca me deixou ficar mal. Não fosse o seu tamanho ser totalmente desadequado para mim, ainda a teria. Ao pegar nos comandos desta GT recordei de imediato a solidez e conforto da minha velha montada.

    Como nota que remete para a qualidade da bicicleta, há um autocolante da Cannondale no quadro. Penso que as duas marcas americanas partilham instalações fabris no extremo Oriente. Os pormenores de qualidade com que este modelo de gama baixa nos brinda fazem-me pensar que se trata de uma aposta ganha. Não é fácil, por exemplo, contar o número de vezes que o logótipo da marca aparece no quadro e nos componentes, incluído o dropout!

    A GT está cheia de detalhes de qualidade, a começar pela pintura do quadro

    Em suma, para quem só pode ter uma bicicleta em casa e pretende dar-lhe um uso polivalente, que inclua um pouco de desporto, passeios com os amigos e algum uso utilitário, este tipo de modelo é a solução. E as boas notícias são que esta bicicleta, e outras do mesmo segmento de mercado, podem ser adquiridas por cerca de 50 antigos contos. Sim, este modelo foi comprado por 249 Euros numa conhecida loja de desporto nacional. É certo que para alguns isto ainda será muito dinheiro para dar por uma bicicleta. É uma questão de prioridades. Se lhe derem algum uso, vão ver que na verdade é das melhores compras que uma pessoa pode realizar.

    Resumindo:

    A Favor: 

    • Quadro
    • Qualidade dos componentes
    • Preço

    Contra:

    • Nada de relevante

    Alguém poderia argumentar que os pneus são para lá de básicos (e pesados) ou que o facto das relações de transmissão beneficiarem as subidas prejudica a velocidade de ponta. Eu penso que para a ordem de preço e utilização que estamos a falar, estes pormenores são irrisórios. Como sempre, o Lisboa Bike recomenda que teste a bicicleta que vai comprar e tenha especial atenção à questão do tamanho do quadro.  


    Bom tempo, amigos e uma bicicleta nova: que mais se pode pedir? 

    Para este trabalho contei com a preciosa ajuda de várias pessoas:

    Modelo, ciclista e feliz proprietário da GT: Comandante Monteiro
    Fotografia: João Serôdio

    Como nota final, recordo que não tenho qualquer relação comercial com a GT nem com quem a representa no nosso país. As opiniões aqui expressas são exclusivamente minhas. Por favor guardem as teorias da conspiração para a Bike Magazine.

    sábado, 17 de setembro de 2011

    Brevemente...

    Imagem: João Serôdio

    Jovem: Sempre quiseste ter uma dobrável mas achas que são todas muito caras? Estiveste para comprar uma daquelas chinesas mais baratas mas tiveste medo da qualidade e durabilidade do material? Ainda estás interessado em saber se valeria a pena ter uma bicicleta dessas? Gostas de Frango assado?

    Se respondeste afirmativamente a três destas perguntas, não percas brevemente uma review detalhada a um modelo de deixar os olhos em bico. Só no Lisboa Bike!

    sexta-feira, 16 de setembro de 2011

    O Fabuloso destino do ReichFüher Barbosa

    Conferência de imprensa com o ReichFürer

    Pronto.

    O homem abriu outra vez a boca e os meios de comunicação social difundiram obedientemente a mensagem do grande timoneiro do apocalipse motorizado. Este senhor já defendeu em tempos ideias com que até eu concordaria, como o reforço das campanhas mediáticas para a prevenção rodoviária (que existiram durante anos, mas depois desapareceram) e o aumento do nível de exigência e fiscalização das escolas de condução.

    Mas o habitual do querido líder do maior clube do país é a retórica cheia de disparates populistas, que apelam ao automobilista primário, que se sente perseguido no seu direito divino de acelerar sem responsabilidade, estacionar onde lhe prover e pagar pouco ou nada por isso.

    E desta vez o homem superou-se. Não é preciso ser muito viajado para perceber que Lisboa é das capitais europeias com menos ciclovias e menos espaço pedonal, uma cidade feita de vias rápidas e avenidas ainda mais rápidas, muitas e muitas faixas de alcatrão, passeios estreitos ou inexistentes e semáforos que só favorecem o tráfego automóvel. António Costa pouco fez para mudar esta realidade sombria. Dizer que o presidente da câmara de Lisboa quer por toda a gente a andar de bicicleta não faz qualquer sentido. Dizer que ninguém anda de bicicleta só prova que o presidente do ACP é tão míope na estrada como alguns dos seus associados.

    Agorra que o ACP aceita motas, vamos falarr mal dos ciclistas!

    É claro que o ReichFüher é um individuo desequilibrado, mas não é parvo. Longe disso. Ele sabe que o seu ataque ao alvo fácil e mediaticamente indefeso que são as bicicletas e as ciclovias, encontra pronta adesão no "Lisboeta" suburbano carro-dependente, que pouco sabe do mundo para lá do seu umbigo cheio de cotão. O Senhor Presidente não pretende agradar a todos. Chega-lhe mostrar serviço aos sócios do ACP e manter-se no topo da agenda mediática. É mais um oportunista mentecapto com um megafone na mão. Não devemos dar-lhe mais importância do que isso. Com um pouco de sorte todo este protagonismo ainda leva o ReichFüher a emigrar. Há países onde a sua particular filosofia de mobilidade se ajustaria melhor à realidade local.