terça-feira, 27 de março de 2012

Ontem & Hoje

Downhill de competição, anos 90:



Downhill de lazer, na actualidade:

segunda-feira, 26 de março de 2012

Últimas: a licra está de volta, Lisboa é fixe e o Carlos Barbosa que se lixe

Helsínquia? Copenhaga? Não. Lisboa!

Querem saber o futuro? Sim, o futuro. Aqui, agora, já. De graça.

Precisam de uns momentos para se prepararem psicologicamente para uma coisa dessas? Não faz mal, compreendo perfeitamente. Eu espero um bocadinho.

Prontos? Pode ser que doa um bocado, mas eu prometo que sou meiguinho: 

"Num mundo onde tudo crescia exponencialmente, a população, os GDP's, o consumo, a poluição, as pessoas fingiram esquecer que o planeta era o mesmo de sempre. Numa era em que tudo se queria novo, a velha Terra continuava a ser a mesma que medíramos pela primeira vez na antiguidade. O mesmo espaço, os mesmos recursos. Só mais degradada. Enquanto continuámos a cuspir no nosso próprio prato de sopa, os problemas foram-se avolumando. Quando o combustíveis fosseis escassearam e o seu preço se tornou proibitivo, todas as alternativas falharam e a economia, depois de crises sucessivas, colapsou de vez. Milhões perderam os empregos, as casas, e por fim a capacidade de se alimentarem. A sociedade como a conhecíamos mudou por completo. O que se seguiu bem podia ser descrito como o caos e as trevas (...)"  

Foi o Nostradamus que previu, no Séc. XVI. Vão procurar.

Conhecedor das profecias do famoso médico francês, António Costa está decidido a preparar atempadamente a capital do império para o Apocalipse vindouro. Como qualquer pessoa, o presidente da autarquia sabe que é impossível separar um "lisboeta" dos subúrbios do seu automóvel, mesmo recorrendo a ameaças terríveis, como o estacionamento supostamente-quase-talvez-pago e avenidas de apenas 8 (10, vá) faixas. Por isso o executivo camarário resolveu nem sequer tentar. Em vez disso, a câmara tem vindo a criar secretamente uma infraestrutura que permita à cidade uma existência pós-apocalipse.         

É verdade. Com o cognome secreto de "Operação Fenix", inúmeras empreitadas têm sido adjudicadas. As obras mais visíveis até ao momento têm sido as mal compreendidas ciclovias. Agora, a "Operação Fenix" entra na sua segunda fase, em que hortas urbanas e espaços públicos pedonais tomam forma. As obras são feitas de modo a não retirar nenhum espaço ao tráfego e estacionamento dos veículos automóveis (97,2 % da área do município), para não levantar suspeitas. Todo o processo é controlado a partir de um "bunker" secreto construído no Intendente, com o objectivo de garantir a continuidade dos órgãos executivos autárquicos. O Intendente foi escolhido não pela vasta experiência da zona com órgãos, mas pela sua semelhança com o que se espera que seja a cidade depois do Apocalipse.

E como é que eu sei tudo isto?

Simples. Eu tinha ido dar uma longa volta por Lisboa, de bicicleta "desportiva", em preparação para uma maratona de BTT para a qual me inscrevi. Ia vestido a rigor, mesmo que a maior parte do trajecto fosse por ciclovias, onde aliás a minha indumentária mereceu a reprovação dos ciclistas urbanos em traje informal. (Que pena que sejamos sempre tão tribais!). Chegado aos arredores do Colombo, não pude deixar de reparar nas novas hortas urbanas e no pedaço de ciclovia ao lado da estação dos autocarros:

Directamente da horta para o Continente? Com facturas a 90 dias, claro...

Não é todos os dias que se vê um espaço público perfeitamente urbanizável do município de Lisboa não ser "aproveitado" para fazer mais parques de estacionamento ou prédios de luxo. Não é todos os dias que vemos o betão, o automóvel e o enriquecimento dos patrões da construção civil serem suplantados pela preocupação pela qualidade de vida dos munícipes. Eu estava siderado.

Mais deste lado

O meu entusiasmo pelo que estava a presenciar não passou desapercebido a um profissional do volante, um condutor de autocarro. Após alguns minutos à conversa com um colega, ambos admirando obsessivamente as formas ainda escassamente femininas das moças menores de idade que passavam, o homem veio à minha beira e pouco depois estava a partilhar comigo a história secreta dos projectos da CML cujos contornos eu acabo de vos narrar. Incrível, não é?

Há um prémio para quem identificar esta imagem

Com a cabeça a latejar, com toda esta informação que eu não conseguia bem digerir, voltei ao meu percurso, que incluía atravessar o Monsanto antes do anoitecer. Não conhecia bem o caminho e o pulmão verde de Lisboa vendeu cara a passagem. Quando sai do "mato" estava nas proximidades da embaixada do Irão e era já noite cerrada. Mau presságio. Em casa adormeci de cansaço no sofá e cai num sono inquieto, povoado por imagens de um mundo pós-apocalíptico, onde o Carlos Barbosa comandava um exército de Zombies marrecos, na tentativa de tomar o que sobrava de uma Lisboa abandonada e semi-destruída.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Christinas há muitas

Da minha nova base ultra-secreta no Parque do Jamor, continuo a acompanhar atentamente o mundo biciclistico (sim, essa palavra não existe em português de Portugal, mas todos os grandes autores inventam léxico novo). Uma equipa dedicada de lebres do campo percorre a imprensa internacional numa procura incessante de informação que me permita perceber as novas tendências da(s) cultura(s) de bicicleta. Recentemente foi-me apresentado um texto de um jornal inglês que não posso deixar de comentar. O artigo já tem umas semanas, as lebres são tecnicamente funcionários públicos e desde que lhes cortaram a 13ª e 14ª cenoura têm andado particularmente vagarosas. É o que se pode arranjar.

"Christina, não vais levar a mal, mas inteligência é fundamental!"

Trata-se um texto do "The Independent", onde uma articulista dá rédea solta ao seu descontentamento sobre a existência das chamadas "Ghost Bikes". Para quem não sabe, uma "Ghost Bike", para além de mais uma marca de bicicletas, é o nome que se dá a um memorial a um ciclista caído (leia-se morto), que toma a forma de uma bicicleta amarrada perto do local do incidente. A bicicleta é pintada toda de uma só cor, normalmente branco, e pode ter fotos e flores colocadas. É o equivalente às cruzes com nomes e flores que se podem encontrar por vezes em Portugal no local de atropelamentos mortais ou outros acidentes de viação.


Já li todo o tipo de noticias e artigos de opinião ofensivos e até insultuosos para com o ciclismo em geral e os ciclistas urbanos em particular. Que alguém se irrite com uma bicicleta parada é algo novo para mim. No artigo em questão, a amiga Christina alega que é normal para quem se mete a andar de bicicleta no meio dos carros correr riscos e que portanto não deveria haver surpresas quando alguém morre, muito menos fazerem-se memoriais ao falecido. É como se ir de bicicleta para o trabalho fosse análogo ao Base Jumping ou algo assim. Quem se mete a fazer coisas que se sabe sobremaneira que são perigosas não tem direito a queixar-se depois, parece ser a mensagem.

Por outro lado, a amiga Christina também questiona o papel activista das Ghost Bikes, já que elas servem também para recordar ao mundo em geral que os ciclistas precisam de condições seguras para as suas deslocações. Ela parece pensar que o espaço urbano "é como é" e não pode ser de outra maneira. Mudar alguma coisa só para que uns ciclistas não morram? Ora essa... Esta diarreia articulista não passou despercebida nos meios britânicos e motivou algumas respostas à altura.   

Este tipo de discurso de quem para ele (ela) tudo esta bem e que "o mundo é assim mesmo" e não pode ser de nenhuma outra maneira faz-me lembrar a seita do ciclismo veicular, que tem sempre esse mesmo tipo de raciocínio. Não estou a dizer, nem nunca disse, que a bicicleta não tem o seu lugar na estrada, mas quando a estrada tem características que foram exclusivamente pensadas para o pópó (e muitas das vias de Lisboa têm características como estas) e que são extremamente perigosas para um ciclista, é claro que exijo vias segregadas. Já agora, as vias segregadas deveriam ser para o automóvel, ele é que é a fonte de perigo. Os criminosos é que vão para a prisão (alguns), não são o resto das pessoas que são encarceradas para ficarem a salvo deles.

Uma posta recente do Snob referiu-se a esta matéria do ciclismo veicular com especial acutilância, e eu não podeiria concordar mais. Há até um comentário de um leitor que resume a minha posição bastante bem, mesmo que recorra ao americanês para se expressar: "(...) What cyclist would ever want to ride IN traffic if they had any other choice?? I ride in traffic and act like a car BECAUSE I HAVE TO in my city lacking bike lanes. I take lanes with confidence BECAUSE I HAVE NO OTHER CHOICE to ride a bike. If I had bike lanes, I would ride in them, or even better, if there was a SEPARATE path, I'd take that. I'm so sick of this macho BS that suggests if you can't ride 20-25 mph everywhere you go, you shouldn't be riding.(...)"

Entretanto, por cá, torna-se evidente que a crise do desemprego afinal não pode ser tão grande como dizem, quando criaturas como esta aparentemente têm trabalho:



Isto é suposto ser uma peça "humorística" de um tal canal "Q". Alguém se esqueceu de avisar a Rosa Felix, que de boa fé deu a cara pelo Mubi. Pelo meio aparece um tipo de fixie, que é suposto ser um Bike Buddy que vai ajudar o amargurado "jornalista" a fazer o seu primeiro percurso de bicicleta pela cidade. É suposto ter graça, mas só a um nível muito básico alguém pode achar a peça engraçada.

Para começar, o "jornalista" parece nem saber andar de bicicleta. Talvez para efeito cómico, o selim está demasiado baixo, e ele pedala com os joelhos dobrados e sempre aos ziguezagues. Quem não sabe conduzir um carro nem regular o seu assento provavelmente também não se aventura a ir conduzir até ao Marquês de Pombal. Digo eu. 

Depois temos a escolha da bicicleta. Isto não tem qualquer peso na peça, que é do mais básico e simplório possível, mas escolher uma dobrável em aço com uma só velocidade para pedalar em Lisboa não parece grande ideia. É claro que o suposto "Bike Buddy" não concordaria, já que este autentico cromo se apresenta numa fixie, uma bicicleta também sem mudanças e sem travões. Pode ser bonita, mas não é decididamente a melhor escolha para Lisboa.

As tatuagens, os conselhos obtusos e o linguajar do "man" escolhido para guia e mentor do aprendiz de ciclista completam a mensagem, tantas vezes repetida: "Eles", os "outros", são muito estranhos e andar de bicicleta em Lisboa é uma coisa muito "esquisita".  Eu sei que é suposto ser um programa de humor, mas não lhe vejo a graça. Talvez possam fazer a seguir um sketch sobre "andar a pé em Lisboa". "Ter 85 anos e morar num prédio na baixa". Ou "viver com a pensão mínima em Portugal". Temas não faltam, o problema é que para brincar com coisas sérias é preciso inteligência, e essa às vezes não abunda. Talvez o tal João Aragão ainda vá a tempo de aprender com os mestres:

quinta-feira, 8 de março de 2012

Vá de Mercedes que vai melhor

Ontem aceitei bolei de um colega. Cerca das 22h, preparava-me para realizar o caminho de regresso a casa. Partindo da Av. de Berna e com destino na zona do Estádio Nacional (há quem diga que o autor deste blogue vive numa árvore com wi-fi dentro do parque), a viagem costuma levar entre 50 minutos a 1h e 30 min, de transportes públicos. Àquela hora há cada vez menos composições de metropolitano. Os comboios são de meia em meia hora. Eu raramente recorro aos transportes públicos fumarentos.

De bicicleta, o mesmo percurso leva entre 50 minutos a uma hora.

E de carro, alguém se atreve a prever? Partindo da Av. de Berna, onde não é difícil estacionar, sobretudo fora de horas, graças à amabilidade da CML, que reduziu os passeios ao mínimo, a bem da "mobilidade" e das "necessidades de estacionamento", estamos a escassa distância de várias vias rápidas. As escolhas são muitas e todas de luxo.  A autoestrada A5 está a escassa distância, a percorrer por "avenidas" de 4 ou mais faixas de rodagem. O meu colega  optou pela CRIL e em menos de 15 minutos eu estava em casa (na árvore). Talvez o facto da viatura envolvida ser um Mercedes tenha alguma coisa a ver com a questão, mas a pergunta que fica é sempre a mesma:

Se continuamos a favorecer o uso do automóvel e a encarecer e dificultar as alternativas, como esperam mudar alguma vez de paradigma? Eu começo a pensar que ninguém quer realmente  mudar nada. É a única conclusão lógica.

Para os meus colegas, que se deslocam todos de carro, só um excêntrico como eu consideraria normal utilizar meios de transporte mais desconfortáveis e 3 ou 4 vezes mais lentos que o po-pó. Fica difícil argumentar com eles.